29 de fevereiro de 2008

Poema com café

Eu fujo de min pra me esconder de um mundo que ás vezes me decepciona,
mais eu fujo e volto a "viver" em vários momentos, momentos estes que ás
vezes falo aqui para vocês...

Não termino de pintar minhas telas com medo de ninguém gostar e de não haver paredes para pendurar, meus textos e poemas ficam guardados sem ninguém olhar, minhas esculturas e desenhos com grafite são apenas a companhia da minha sala vazia.

Sala vazia que tem eu e meu vazio antigo, e que em muitos momentos vem e vai sem pedir licença, tudo bem à vida se acostuma. E nesses momentos gosto de pintar, escrevo e desenho imagens que depois nem acredito que saíram pelas minhas mãos.

Mãos calejadas e cansadas de varrerem cafezais com uma inchada de cabo torto que até hoje guardo no galpão como recordação, galpão também que fiz com minhas mãos com madeira velha que peguei do morro alto, quando eu ainda tinha pernas para agüentar, já que hoje meus joelhos travam e mal consigo abrir a porteira de casa.

Minha casa é bonita e marrom cor de madeira, as mesas e os móveis não tem muita frescurada só uso o necessário e tudo muito bem guardado, quanto a areia eu deixo o vento limpar, abro a porta dos fundos e da frente e quando encana ela o acompanha e vai levando toda essa sujeira e folhas de poemas que esqueço em cima da mesa.

Quando escrevo lindos poemas deixo ali esperando o vento levar e peço que ele conduza para pessoas certas olhar, por mais simples que sejam eles levam história até terem seu titulo nas primeiras linhas.

Minha idade eu já nem sei acho que sou mais velho que oitenta mais não faço mais questão, quanto mais à gente fica velho, bate o pensamento que não vamos agüentar mais um ou dois dias, eu acho que vivi pouco ainda, se durar mais 100 anos vou ficar feliz da vida, já que sonhar vale muito mais a pena do que eu imaginava.

Dizem que o fumo faz mal, mais eu gosto do cheiro e de ver o movimento da fumaça que sai da minha boca, aprendi a fazer palheiro no cafezal com o falecido Manoel que cuidava da fileira seguinte da minha que vivia se escondendo entre as folhagens para arrumar o fumo dentro da folha de milho e quando dava tempo até eu ganhava um pra pitar.

Manoel ganhava nas marquinhas da cara, tinha muito mais que as minhas, os olhos deles tinham traços dos lados que o povo comprador falava pés de galinha, pra min olhavam atravessado deve ser por causa do cabelo grisalho bem cuidado.

Minhas galinhas vivem soltas a ciscar por volta de casa e me ajudam a não deixar resto de comida. Comida pouca mais o suficiente pra eu me alimentar e o que interessa mesmo é sempre ter uma caneca de café cheia, que ainda trazem pra min do cafezal como gratidão pelas fileiras que eu vivia a capinar.

O saquinho de pano vem com manchas marrons e cinzentas, o cheiro dele já me alimenta, coisas de um velho bobo que vive a escrever poesias relembrando o quanto é bom viver.
À hora de tomar café é sagrada, pego a caneca passada e vo dando goles na minha cadeira de fiapo de corda que fica próximo a porta de casa,é onde fico vendo a movimentação das carroças quando não passa caminhão e levanta um capoeirão.

Coisas de um velho grisalho que gosta de escrever poesias, coloca-las muitas vezes com manchas de café sobre a mesa e deixando o vento guiar as folhas que saem de casa e se arrastando entre a poeira, sorte de quem lê que pode apreciar poesias de um velho que ainda tem muito a contar e momentos estes que ás vezes falo aqui para vocês se admirar (ou não).