5 de julho de 2009

Aniversário

Aniversário é bom com Coca Cola.
Tem de ter fatia de sobra do bolo cortada em cima da mesa.
Pedido ao apagar das velas.
E um monte de gente pra abraçar.
Tem que ter a vovó na cadeira e as crianças pulando no sofá.
Um pai envergonhado vendo o filho deixar cair bebida no tapete.
E um tio amarrando o cachorro na casinha.
Tem que ter docinho amassado, e plástico nele grudado.
Tem que vir uma tia de fora falar da região.
E o Tio mostrando o novo carrão.
Tem que ter dinheiro nos presentes, e papel que da vontade de guardar.
Não pode faltar música e gente querendo fazer festa.
Depois de toda comilança tem de ter café, um bolo da vovó [que continua sentada].
Tem criança puxando o pai pedindo dinheiro e a tia dando balinha.
Tem que ter o tio com a faca cortando as linhas dos balões.
E as crianças estourando um ou dois e guardando três ou quatro.
Uma máquina registrando tudo e mulheres querendo pentiar os cabelos.


Opá! Espere ai a vovó chamou e disse que o cachorro se soltou.



14 de junho de 2009

Cinco cordas


Pegou o violão com uma corda a menos.
Jogou a mochila num canto e começou a tocar.
Cantava e tocava sentindo os dedos deslizarem nas cordas.
Sorria como se tivesse uma imensidão aplaudindo.
Parava e mexia as costas para distrair a dor.
Aplaudia a cada som de moeda ou nota se desdobrando no chapéu.
Agradecia e dizia – Vá com Deus!
Continuava tocando, distraindo a dor e ouvindo um som do coração.
O coração era livre, sentia os carros buzinarem, não ouvia ninguém o xingar,
Agradecia a mais uma moeda e continuava a cantar.
No final em qualquer hora ele parava, as costas o chão tocava e os mesmos olhos sem enxergar pediam o cobertor das pálpebras para sonhar.




31 de maio de 2009

Viaduto


O papelão com o passar do tempo ficou fino, esfarelado, mais era ainda o que se ajustava melhor as dobras.
As cordas estavam finas, e com muitos pedaços emendados, mais ainda servia para amarrar algum pedaço de plástico em dias de chuva.
O boné já não mostrava mais aqueles dizeres publicitários e o aperto não se ajustava mais.
Os cabelos se juntavam com a barba grisalha com tons cinzas eamarelados, uma mescla de manchas do cigarro e pingos de café.
Os olhos quando abertos acordavam mil expressões e criavam linhas sem fim, como aquelas que os pés rachados já passaram sem ter um destino para encontrar.
E afinal qual caminho a se encontrar?



4 de abril de 2009

Chão de manchas

Vomito palavras inteiras e acabo sempre solteiro.
Trago um cigarro na ponta dos dedos ouvindo o barulho dele se queimar, e te imagino cochichar.
Fico sem tomar banho por mal-humor, e me pinto com tintas para me fazer de palhaço.
Não tenho medo de ficar amontoado pelas cobertas feito um cão sem dono.

Se fiquei com preguiça de limpar a poeira, é porque quero trazer a mobília algo que possa cobri-las.
Tomo café mais do que água, é que é mais fácil fazer do que achar a torneira em meio à louça suja.
A lua é a minha luminária natural, a cortina meu ventilador artificial e o cheiro de café meu aroma sensual.

Perdi o rumo da conversa, não sei se tem alguém ai me ouvindo mais eu estou sentindo que eu não te causei orgulho, que coincidência não é mesmo?




21 de março de 2009

A noite-sala


A sala foi dormir
O tapete logo se esparramou
O sofá tratou de empurrá-lo:
-Ora, saia daqui descarado.
O criado mudo ficou assustado e logo a luz em cima dele se acendeu.
Clareou a almofada que logo fez na parede um mostro com armadura e cajado.
A televisão se desligou e o armário se fechou, a cortinha ao contrário de todo mundo se abriu e a janela curiosa os vidros ringiu.
Derrepente naquela noite agitada a tomada muito indignada se embalou, acendeu a luz e a festa começou.