28 de janeiro de 2009

Do Jeito Humano

Sentada ela assistia apreensiva o noticiário sobre o protesto nas ruas.
Lá fora o céu ganhava mesmo sem sua vontade uma fumaça preta fedida vinda de pneus e madeiras que eram queimadas.
As ruas estavam tomadas de humanos, falando alto, gritando, e erguendo placas [e fazendo tantas outras cosias que eu me recuso escrever] gritavam pedindo dinheiro, sem saber o porquê e para que queriam ele, mesmo assim gritavam incansavelmente: - O dinheiro é do povão e não de político ladrão.
E neste ritmo seguiam atravessando os canteiros e as avenidas e por onde passavam à sujeira era a única companhia desagradável das calçadas.
Um e outro arremessavam sem mirar uma daquelas bombas caseiras e quem via o ato logo colocava a mão nos ouvidos e fazia careta, quem esquecera gritava “Filho da mãe”.
E era mesmo, como todos que ali estavam.
De um lado os sindicalistas iam colando com tapas no peito das pessoas, adesivos redondos com alguns dizeres, de outro as pessoas pulando e gritando [daquele jeitinho humano] e mais a frente a policia esperava o momento certo de se transformar em um tanque de guerra.
Os humanos não entendiam nada, mais exibiam na face uma coragem pálida, até que uma daquelas bombas arrancou na frente da multidão e estourando perto dos policiais, foi como um tiro de largada, e lá foram os dois grupos se misturando como em uma guerra de tróia.
O sangue logo ia se destacando e a coragem manchada saia correndo junto com as pernas para logo no primeiro espaço vazio se entregarem para o chão e começar a gritar.
[Um detalhe: Agora os gritos vinham do coração].
E as armas começaram a ser tirada das costas e aos pouco ganhando as mãos.
Ninguém sabia o que fazer, até que um tiro acompanhado de um clarão fez o asfalto ganhar mais uma companhia indesejada, agora o sangue de uma criança trilhava as ranhuras enquanto todo o resto caminhava em direção as suas casas.
No outro dia tudo normal, como se o dia passado tivesse sido em casa com a família.
E a mulher ainda apreensiva só que agora à espera da novela que não começava.




2 comentários:

Nine disse...

Tiago nao sei em q voce se inspirou ,aqui no Br é que nao faltam ocasioes de balas perdidas!Infelizmente é verdade, temos seguido indiferentes a essas tragédias....Todos nos!abs

Paula Barros disse...

Realidade. Fato. Noticiários na TV. Crueldades, guerras, corrupção, mortes violentas, assaltos, pedofilia....Assistimos abismados, conversamos indignados pelo assunto, alguns enchem os olhos de lágrimas...muda o canal ou aguarda o próximo programa...Entra no mundo da fantasia, dos sonhos, se foge da realidade....Suspiramos aliviados.

Ou para alguns (eu), nem ligo mais a televisão.

Alienação? Poupar um sofrimento de quem acha que não pode fazer nada?

Um texto para fazer pensar...

abraços